Recorrer ao argumento da ilegalidade jurídica para estabelecer limites e deveres sem contestação é prática utilizada por políticos e pelo poder econômico para subsidiar atitudes arbitrárias.
Esses feudos criaram a subclasse de trabalhadores sem instrumentos reivindicatórios comuns aos demais. Estabeleceram critérios semelhantes aos dos regimes escravocratas, onde as regras eram unilaterais ditadas pelos proprietários dos escravos.
Invocar a ilegitimidade de movimentos sociais baseados na função exercida é tratar de maneira simplória e irresponsável parte da sociedade que se submete a processos seletivos cada vez mais complexos, com finalidade de produzir o bem social público.
A greve é ato supremo e todas causam danos sociais. Ocorre que, nas greves dos bancários, dos petroleiros, do judiciário, entre outras, seus líderes não são tratados como bandidos, não são presos em presídios de segurança máxima.
Prender líderes trabalhistas em presídios se assemelha às práticas adotadas pelo regime político cubano; por isso, a dificuldade dos políticos brasileiros em questioná-lo perante a comunidade mundial. Em uma sociedade justa todos deveriam ter direito a manifestação pública. Todos.
Ninguém faz greve para sensibilizar empreiteiros a bancarem um final de semana na Bahia, ou para promover o caos, pois o caos já está estabelecido há muitos anos.
Diante da vestimenta de paladinos sociais aos nossos governantes tudo é permitido, surfam impunemente protegidos por regimes especiais, criam patrimônios pessoais absolutamente incompatíveis com seus rendimentos formais. São inimputáveis, blindados por parte da imprensa preocupada apenas com suas atividades comerciais.
A retórica de que policiais ao ingressarem no serviço público têm o conhecimento que não podem participar de movimentos grevistas é típica dos descompromissados com a realidade, em todos os sentidos. Fingem desconhecer que normas sociais, quando não estabelecem o equilíbrio, são mutáveis.
Não fosse assim ainda hoje existiriam trabalhos escravos formais; mulheres sem direito a voto; o espiritismo seria contravenção; a ditadura militar seria nosso regime de governo, etc. Se a sociedade é mutante, novas normas sociais se estabelecem em movimentos que se iniciam na “clandestinidade”.
Durante o regime militar sequestros de diplomatas, assaltos a bancos, e outros atos que hoje deploramos foram praticados por pessoas que se posicionavam contrárias à ditadura, e de alguma forma contribuíram para modificar o modelo de governo brasileiro.
São hipócritas as considerações de políticos e parte da impressa que passam a imagem de vândalos para cidadãos que teimam em atuar em estruturas falidas, que estabelecem critérios indignos operacionais sem questionamentos, inclusive os remuneratórios.
Para aquele que entende que prender líderes de movimentos sociais é uma vitória da democracia, e que a ordem social está estabelecida, parabéns. Tudo voltou ao normal.
O patrocínio do carnaval está garantido, o atendimento hospitalar continuará a promover desespero, o ensino continuará a produzir analfabetos e eleitores fiéis.
As políticas de segurança continuarão a prender lideranças, os policiais e bombeiros continuarão despreparados e desestimulados, mas, subservientes às normas militares que os fazem cidadãos de segunda categoria, sem direitos reivindicatórios, sem o direito de promover o sustentáculo social de suas famílias.
No fundo não somos diferentes de outros regimes de fachada que idolatra a liberdade de expressão e a democracia quando é conveniente.
Havana é aqui. Arriba, arriba... pão e circo (BBB) para todos.
As sociedades democráticas estão empenhadas nos valores da tolerância, da cooperação e do compromisso. As democracias reconhecem que chegar a um consenso requer compromisso e que isto nem sempre é realizável. Nas palavras de Mahatma Gandhi, “a intolerância é em si uma forma de violência e um obstáculo ao desenvolvimento do verdadeiro espírito democrático”.
Jorge Luiz
Semovente estadual
E que Deus tenha piedade de nós.
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